A Nova Era dos Psicodélicos!

Ritos Ancestrais

Há milhares de anos que as sociedades pré-colombianas, africanas, asiáticas, utilizam em seus ritos e cultos as mais variadas substâncias químicas extraídas de plantas e animais, quer para efeitos anestésicos, curativos ou por motivos transcendentais em seus cultos espirituais. Xamãs de toda parte do mundo, há séculos conduzem viagens astrais com o auxílio destas substâncias. É o caso por exemplo dos ancestrais mexicanos cujos ritos incluíam a “dimetiltriptamina”, um tipo de “alcalóide triptamínico” (5MeODMT), extraído das glândulas do “Bufo Alvarius”, um Sapo encontrado no deserto de Sonora no MéxicoA medicina como preferem chamar, possui um efeito praticamente instantâneo pois diferente do DMT da Ayuhasca que é ingerido através do chá que passa pelo sistema digestivo, corrente sanguínea, até alcançar a ” Pineal”, a substância do Bufo por ser inalada vai diretamente para o cérebro (barreira hematoencefálica), provocando um forte impacto holográfico com a abertura da Glândula Pineal. A experiência dura entre 15 e 20 minutos para os que assistem e possivelmente uma eternidade para os que a utilizam. Contudo, no Brasil ainda não há regulamentação para seu uso e a probabilidade é que no futuro, deverá ser permitida em cerimônias na versão sintética.

Em 1957, um banqueiro dos EUA trouxe do México alguns cogumelos psicoativos que fez chegar às mãos do químico suíço, Albert Hoffman, o mesmo da descoberta do LSD (ácido lisérgico) em 1943. O pesquisador concentrou-se em estudar os efeitos psicodélicos produzidos por estes cogumelos, a chamada “psilocibina”.

No livro: “História Social do LSD no Brasil” (Editora Elefante), o historiador e autor Júlio Delmanto, narra a chegada deste psicodélico por aqui, para fins de Pesquisa, ainda nos anos 50, bem como a sua utilização por parte dos artistas. “Na época, não havia esse estigma contra a substância. Ela atraiu médicos ligados à esquerda, mas também pesquisadores de direita, alguns deles ligados à ditadura militar e a instituições manicomiais”, diz Delmanto em declaração à BBC News.

Pesquisas realizadas nos anos 60, já identificavam o excelente potencial de uso terapêutico dos psicodélicos LSD e Psilocibina, especialmente para a cura da dependência de álcool, combate ao stress e a chamada melancolia profunda (depressão), traumas, entre outras necessidades de tratamento psíquico. Contudo,  as pesquisas sofreram um grande revés com a criminalização destas substâncias, fazendo evaporar as fontes de financiamento. Ocorre que aquele período histórico, foi marcado pela “Contracultura”, período em que os Jovens americanos e de diversas partes do mundo estavam a questionar os modelos políticos baseados em conflitos armados que já haviam produzido duas guerras insanas com milhões de vidas perdidas.

Naquele mesmo período as filosofias e religiões orientais aportavam na América trazendo suas reflexões mais profundas em relação a Vida, através da prática libertadora do Yoga e da Meditação Transcendental. A ideia de uma Vida livre, sem a necessidade de competidores, conflitos, guerras que consumiram US$bilhões e resultaram únicamente em medo e concentração de poder nas mãos de poucos, levaram aos diversos protestos.

O extraordinário Woodstock ocorrido entre 15 e 17 de agosto de 1969 em uma fazenda na comunidade rural de Bethel (NY), reuniu entre 400.000 e 500.000 participantes, tornando-se o símbolo deste grito de liberdade dos jovens. O Festival que reuniu os maiores ícones daquela Era, eternizou algumas canções e seus artistas, como: “Evil ways” (Santana), “St. Stephen” (Grateful Dead), “Bad moon rising” (Creedence Clearwater Revival), “Piece of my heart” (Janis Joplin with The Kozmic Blues Band), “Dance to the music” (Sly and the Family Stone), “My generation” (The Who), “White rabbit” (Jefferson Airplane), “With a little help from my friends” (Joe Cocker), “Suite: Judy Blue Eyes” (Crosby, Stills, Nash and Young) e “Purple haze” (Jimi Hendrix). Eles ergueram a bandeira da Paz e o protesto explícito contra a entrada e a permanência dos EUA na Guerra do Vietnã (entre 1965 e 1973)  com o recrutamento dos Jovens para morrerem pela Pátria!

Pregavam o Amor livre, a integração com a natureza o que incomodou muito o governo conservador e as lideranças religiosas. Aqueles “Hippies Doidões”, representavam um imenso risco ideológico para o Presidente Nixon e toda a sua máquina de guerra fortemente financiada pela indústria armamentista. A Paz não fazia bem aos negócios e ao Projeto de Nação Hegemônica Global, capaz de emitir o dinheiro do mundo e dominá-lo-lo pela via do controle financeiro e militar. Na esteira do sentimento de justiça e liberdade, os protestos dos Afrodescendentes quanto a cultura escravocrata do país, também se intensificou e em alguns momentos confrontos físicos contaram com o movimento dos Panteras Negras, dispostos a defender a causa libertária racial.

O Governo Nixon com a justificativa de defender os princípios da família e da nação americana, criminalizou o uso das drogas psicoativas, dando início a chamada “guerra contra as drogas”, que viria se estabelecer até os dias atuais gerando centenas de US$bilhões com a repressão, presídios, armamentos etc. Tratou-se na verdade de uma reação política às ideologias que não tinham como controlar a não ser através da narrativa construída sobre um novo inimigo à ser combatido: “As Drogas” que gerou um mercado paralelo do crime organizado, representado por grupos armados, máfias etc e toda ordem de corrupções políticas, militares etc.

Voltando ao foco científico, os avanços das pesquisas foram marginalizados e carregados de proibições e ameaças ao longo de todas estas décadas, até que recentemente os persistentes pesquisadores, especialmente os dedicados aos princípios ativos da cannabis (maconha), passaram a desmistificar todas estas barreiras e a obterem permissões para o desenvolvimento de estudos médicos do Canabidiol em pacientes com problemas neurológicos, psicológicos etc.

As comprovações dos efeitos positivos destes tratamentos mundo à fora, reabriram a discussão acerca do uso dos psicodélicos para fins terapêuticos de vícios e de saúde mental. Legislações em diversos Estados Americanos e de países europeus  já admitem a produção para fins medicamentosos (até 0,2% de THT) e para o uso recreativo da maconha. O Canabidiol (CBD) é a substância química encontrada na Cannabis Sativaseu extrato compõe pelo menos  40% dos extratos da Planta. É utilizado em tratamentos relacionados com as emoções uma vez que opera no sistema Límbico e Paralímbico com a vantagem de não gerar os fortes efeitos colaterais das substâncias atualmente ministradas pela indústria farmoquimica, bem como a dependência medicamentosa ou efeitos psicoativos, além de reduzir a ansiedade (efeito ansiolítico), ser anti-inflamatória, antiepilética, antipsicótica e neuro-protetora.

O Blog Dr.Cannabis traz uma lista de 32 doenças que podem ser tratadas com o uso do CBD, como: Acne, Alzheimer, Anorexia, Câncer, etc. Veja a lista completa no Link: https://blog.drcannabis.com.br/doencas-tratadas-com-canabidiol/

No Brasil, o drama para se obter o direito de importação dos diferentes tipos de Canabidiol seguem numa marcha lenta e uma imensa judicialização por parte de familiares de pessoas de todas as idades com as mais variadas necessidades e urgências. O que diz o site da Anvisa:

Histórico

Em dezembro do ano passado, a Anvisa aprovou a criação de uma nova categoria de produtos derivados de Cannabis. A Resolução aprovada entrou em vigor no dia 10 de março deste ano. A partir desta data, as empresas interessadas em fabricar e comercializar esses produtos puderam solicitar o pedido de autorização à Agência.

Em 22 de abril do ano passado foi aprovado o primeiro produto de Cannabis pela Anvisa. Trata-se de produto à base de canabidiol com concentração de 200 mg/mL. No dia 22 de fevereiro deste ano foram aprovadas duas novas concentrações para este produto à base de canabidiol, 20 mg/mL e 50 mg/mL.

O regulamento prevê que o comércio dos produtos de Cannabis será feito exclusivamente mediante receita médica de controle especial. As regras variam de acordo com a concentração de tetra-hidrocanabinol (THC). Nas formulações com concentração de THC de até 0,2%, o produto deverá ser prescrito por meio de receituário tipo B, com numeração fornecida pela Vigilância Sanitária local e renovação de receita em até 60 dias.

Já os produtos com concentrações de THC superiores a 0,2% só poderão ser prescritos a pacientes terminais ou que tenham esgotado as alternativas terapêuticas de tratamento. Nesse caso, o receituário para prescrição será do tipo A, com validade de 30 dias, fornecido pela Vigilância Sanitária local, padrão semelhante ao da morfina, por exemplo.

Há uma iniciativa fantástica no Brasil que congrega os maiores pesquisadores e especialistas do país no tema dos psicodélicos, que trabalham globalmente em rede com os cientistas mais avançados do mundo nesta temática. Trata-se do Instituto Phameros (fundado em 2011), cujo site vale muito à pena acessar, bem como as suas redes sociais, por trazerem atualizações técnicas e notícias precisas dos avanços em curso: https://institutophaneros.org.br/

Ayuahasca

Fato é que a Cannabis no mundo e a nossa Ayahuasca no Brasil, de certa forma abriram um caminho de segurança jurídica para a utilização de princípios ativos fundamentais para o tratamento das mais variadas patologias e com isso o reingresso da ciência nos estudos avançados dos efeitos terapêuticos dos psicodélicos no mundo.

Segundo o site da Câmara dos Deputados (Agência Câmara de Notícias), o Projeto de Lei 179/20, de autoria da Deputada Acreana, Jéssica Sales (MDB) disciplina o uso do chá ayahuasca e reconhece como entidades religiosas as instituições  o utilizam para fins ritualísticos. De acordo com a proposição, passa a ser permitido, em todo o território nacional, nos locais previamente autorizados, a ingestão do chá, que é feito a partir do cozimento do cipó Mariri (Banisteriopsis caapi) e da folha da Chacrona (Psychotria viridis), plantas nativas da bacia Amazônica. A ayahuasca, que também pode ser chamada de “Santo Daime” ou “vegetal”, contém uma substância chamada de DMT (Dimetiltriptamina). O chá é estudado, porque essa substância altera a percepção da realidade e pode ter efeitos terapêuticos, por exemplo, no tratamento da depressão.

O chá é comungado por diversos povos indígenas no Brasil e em outros países amazônicos. Estima-se que os Incas já tomavam a ayahuasca há mais de 5 mil anos.

Diversos Centros de Referência no estudo das substâncias psicodélicas têm sido inaugurado no mundo, desde a Jamaica que inaugurou o primeiro centro de pesquisa de psilocibina do mundo, ao Center for Psychedelic and Consciousness Research, inaugurado em setembro de 2019 na Universidade de Medicina Johns Hopkins, em Baltimore (EUA). O FDA (Food and Drugs Administration) dos EUA avança cada vez mais nas autorizações de produtos com dosagens terapêuticas e isso cria um novo mercado para as próprias indústrias Farmoquimicas. Ao invés dos anti-depressivos e uma imensa lista de medicamentos ministrados com resultados de longo prazo, os novos medicamentos demonstram maior eficiência e rapidez no resultado desejado pelas pessoas. Para exemplificar esta corrida e a necessidade latente, menciono o Reino Unido, cuja demanda por antidepressivos já é maior que a oferta, tendo dobrado nos últimos dez anos. Esta é uma das razões pela qual os pesquisadores de lá intensificaram os estudos para utilização da psilocibina no tratamento da depressão por exemplo.

Psicodelia Digital

Uma das críticas a este movimento de resgate científico é que os meninos do Vale do Silício enxergam nas substâncias alucinógenas, um meio de transformar as pessoas em “androides”  através da injeção de microdoses com o objetivo de fazer as pessoas trabalhem mais (estímulos) e produzam mais criativamente (efeitos) para gerarem cada vez mais resultados financeiros e patentes que possam explorar no mercado. Se esta moda pega e se expande mundialmente sem o devido controle médico, poderia se tornar o “Ópio Global”.

O questionamento é sem dúvida alguma cabível e pode ser ampliado para o nível de hipnose algoritimica e de telas cuja dependência tecnológica e impactos psíquicos já alcança níveis preocupantes. Como já retratado neste Blog, no artigo: “Existe livre Arbítrio na Era Digital?” (https://blogs.correiobraziliense.com.br/ofuturojacomecou/2020/11/03/existe-livre-arbitrio-na-era-digital/) , países como Taiwan e China já possuem Leis para coibir o uso abusivo de tecnologias por parte de crianças e jovens. O artigo aborda também o fato de que os Gurus do Vale do Silício proíbem o uso de telas para seus filhos até certa idade, exigem nas cláusulas contratuais que as babás também não o façam e matriculam seus filhos em Escolas com métodos mais que analógicos, integrativos e conectados com a natureza, a exemplo dos colégios Montessorianos.

Se somarmos tudo isso a utilização da Realidade Aumentada, da Realidade Virtual em larga escala com a chegada dos padrões 5G e 6Gda Inteligência Artificial, da Computação Quântica, da Edição Genética, da Robótica etc, a coisa vai tomar um rumo “Bem Doido”, para fazer aqui um trocadilho. Rsss.ópio

Penso que há grande valor na retomada da ciência com as substâncias que possam assegurar o alívio da dor, a cura, o equilíbrio emocional ou pelo menos a melhora da qualidade de vida dos pacientes em tratamento paliativo e isso vem para ficar. Importa saber os aspectos regulatórios, éticos que recaem sobre este imenso universo que se abre pelos psicodélicos, mas também quanto a regulação dos excessos tecnológicos.

De qualquer forma, sigo absolutamente convicto do poder de nossa Tecnologia Espiritual, acessada pelo transe natural, meditativo, transcendental. Seja como for, sigamos na Jornada Interior no mais profundo autoconhecimento e aprendamos a desapegar das narrativas ilusórias de controle e subjulgamento, rumo a Conscientização da Verdadeira Imensidão de nosso “Eu”!

Namastech!

Fonte: correiobraziliense
Por: Gilberto Lima Jr.

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