Apagão cibernético global afeta voos, bancos e serviço de emergência; o que se sabe até agora

Bancos, televisões e companhias aéreas estão sofrendo com um apagão global de tecnologia na sexta-feira (19/7).

Há relatos de diversas operações suspensas em diferentes partes do mundo. O episódio já está sendo classificado como o “maior apagão” tecnológico da história, por especialistas.

No X, Elon Musk, presidente da Tesla, descreveu o caso assim: “É a maior falha de TI de todos os tempos”.

Cerca de 4.295 voos em todo o mundo, ou 3,9% de todos os serviços regulares, foram cancelados até agora, de acordo com dados de aviação da Cirium.

Houve caos e filas em aeroportos pelo mundo. Voos no aeroporto de Sydney, na Austrália, não puderam decolar.

As companhias americanas Delta e United Airlines também suspenderam todos os seus voos.

No Reino Unido, houve um apagão na bolsa de valores de Londres, linhas de trem também estão suspensas e diversos aeroportos estão relatando atrasos.

O canal de televisão Sky News ficou fora do ar de manhã. O canal infantil e adolescente da BBC, CBBC, também ficou fora do ar.

A polícia no Estado americano do Alasca noticiou um apagão nas linhas de telefone de emergência. No Facebook, a polícia disse que “muitos call centers de emergência e de 911 [o número de emergência nos EUA] não estão funcionando devidamente no Estado do Alasca”.

A empresa responsável pelo software defeituoso, a CrowdStrike, disse que os consertos já foram feitos, mas que a normalização pode demorar.

“Encaminhamos os clientes ao portal de suporte para as mais recentes atualizações e vamos continuar oferecendo atualizações completas e contínuas em nosso site”, afirmou o presidente da empresa, George Kurtz.

Kurtz reconheceu que pode levar “algum tempo” até que todos os sistemas voltem a funcionar, mas ainda afirmou que os clientes da CrowdStrike “permanecem totalmente protegidos”.

Especialistas em segurança cibernética estão alertando sobre os efeitos indiretos da interrupção global de segurança cibernética.

Embora já tenha sido adotada uma solução para corrigir o problema mais imediato, o processo manual exigido para que os computadores voltem a funcionar como devem ainda exigirá muito trabalho pela frente, disseram eles.

Aparentemente, o caos causado na Europa foi maior do que na América do Norte e América Latina, o que levou os técnicos a perceberem que o problema foi gerado no reinício das operações computadorizadas pela manhã.

Maior apagão cibernético da história?

Elon Musk classificou a interrupção de hoje como a “maior falha de TI de todos os tempos” – mas ele está certo?

Em termos de impacto imediato na vida das pessoas, é difícil pensar em um episódio pior, avalia Joe Tidy, correpondente de tecnologia da BBC News.

“Nenhum outro incidente afetou uma faixa tão ampla da indústria e da sociedade”, diz Tidy,

O correspondente aponta que uma grande interrupção assim mais recente ocorreu quando a Meta, empresa dona do Facebook, WhatsApp e Instagram, enfrentou problemas em 2021.

Isso afetou bilhões de usuários de redes sociais, bem como milhões de empresas.

“Mas esta interrupção do CrowdStrike está em outro nível”, diz Tidy.

“O caso mais próximo que tivemos foi em 2017, quando dois ataques cibernéticos deliberados deixaram centenas de milhares de computadores off-line e tiveram um impacto enorme nos serviços do NHS.”

No entanto, o novo incidente afetou potencialmente muito mais computadores e empresas em todo o mundo, explica o correspondente.

O que causou o apagão global?

Avião da companhia American Airlines no ar
A American Airlines disse à BBC que nenhum voo está autorizado a decolar e que está em contato com todos os voos que estão no ar

Diversas empresas e entidades afetadas apontaram um problema técnico com softwares da empresa de segurança CrowdStrike em sistemas Windows, da Microsoft. A CrowdStrike, então, divulgou um comunicado afirmando que o apagão global se deveu a um problema de atualização de sistema.

A CrowdStrike é uma empresa de segurança online fundada em 2011 cujo objetivo é proteger algumas das maiores empresas do mundo de ataques cibernéticos.

Ela é especializada em proteção de segurança e busca evitar que softwares ou arquivos maliciosos atinjam redes corporativas. A CrowdStrike também é focada em proteção de dados para empresas que migraram suas bases de seus próprios computadores para servidores em nuvem.

A empresa foi fundada no Texas pelos empreendedores George Kurtz — que segue como CEO — e Dmitri Alperovitch. Ela está listada na bolsa Nasdaq desde 2019.

A CrowdStrike divulgou um comunicado nesta sexta-feira (19/7), assinado pelo CEO George Kurtz, em que afirma que o apagão global não se trata de um ataque cibernético — mas sim de um defeito em uma atualização de sistema.

“A CrowdStrike está ativamente trabalhando com clientes impactados por um defeito encontrado em uma atualização de conteúdo para servidores Windows. Servidores Mac e Linux não foram impactados. Este não é um incidente de segurança ou ataque cibernético”, afirma a nota.

A Microsoft também emitiu uma declaração, através de seu porta-voz.

“Estamos cientes de um problema afetando aparelhos Windows devido a uma atualização de uma plataforma de software terceirizada. Nós avisamos que uma solução está por vir”, disse a empresa.

Posteriormente, a empresa orientou os consumidores a “reiniciarem” os sistemas afetados.

“Você já tentou desligar [o computador] e ligar novamente?”, sugere a nota.

Segundo a empresa, a técnica deu resultado em algumas máquinas virtuais – aqueles PCs em que o computador e o monitor não estão ambos instalados no mesmo local.

Entretanto, a Microsoft alerta que poderão ser necessárias diversas operações do tipo liga-desliga até que se consiga sucesso.

Segundo a empresa, “em alguns casos foi necessário desligar e ligar a máquina 15 vezes”.

Mensagem no canal Sky News, no Reino Unido, avisa que transmissão foi interormpida
Mensagem no canal Sky News, no Reino Unido, avisa que transmissão foi interormpida

Aeroportos

Mais de 1.300 voos foram cancelados em vários países, incluindo Estados Unidos, Reino Unido e Japão.

O aeroporto Schiphol, de Amsterdã, avisou que o problema técnico está provocando atrasos, mas não detalhou quantos voos foram afetados.

Em Sydney, os painéis que mostram os horários dos voos apagaram. Uma companhia aérea, a Jetstar, anunciou que não poderia fazer o check-in dos passageiros.

Em um aviso público, o aeroporto culpou a empresa Microsoft pelos problemas técnicos.

A Microsoft disse que está “migrando suas operações” por conta de problemas com seus serviços, segundo a agência de notícias AFP.

A empresa disse que os problemas começaram às 18h da costa leste dos EUA de quinta-feira (19h no horário de Brasília).

A empresa está investigando problemas com seus serviços de nuvens nos EUA — que estaria afetando diversos aplicativos e serviços.

Na Alemanha, a companhia aérea Eurowing informou que seu sistema de check-in não estava funcionando. O maior aeroporto da Suiça, em Zurique, disse que aviões não estão sendo autorizados a pousar lá.

A companhia aérea Virgin Australia chegou a anunciar que todos os seus aviões ficariam no solo — “nenhum voo está entrando ou saindo”.

Um tempo depois, no entanto, houve uma retomada em alguns passageiros da Virgin Australia voltaram a ser embarcados.

Uma placa notifica os clientes sobre um fechamento temporário devido a problemas de tecnologia em uma loja em Canberra, na Austrália
Um aviso em frente a uma loja alerta para o fechamento temporário devido a problemas de tecnologia em Canberra, na Austrália

O aeroporto de Berlim publicou no X, antigo Twitter, que está com atrasos em check-ins por conta de um problema técnico. Na Espanha, também houve relatos de atrasos.

“Estamos trabalhando para resolver tudo o mais rápido possível. Enquanto isso, operações estão continuando com sistemas manuais”, disse a operadora dos aeroportos espanhóis.

Nos Estados Unidos, as companhias United, Delta e American Airlines também decidiram interromper todos seus voos. Os aviões que estão no ar seguirão seus cursos normalmente, mas nenhum outro voo está partindo.

As telecomunicações também estão sendo afetadas. O grupo Telstra, da Austrália, disse que está enfrentando problemas globais com CrowdStrike e Microsoft, que estão afetando seus sistemas.

No Reino Unido, a televisão Sky News ficou fora do ar. A bolsa de Valores de Londres também chegou a ser afetada, mas está funcionando normalmente nas operações de compra e venda.

“O sistema de notícias RNS [regulatory news service, em inglês] está enfrentando problemas globais com um parceiro terceirizado, impedindo que notícias sejam publicadas em www.londonstockexchange.com. Equipes técnicas estão trabalhando para restaurar o serviço. Outros serviços no grupo, incluindo a bolsa de Valores de Londres, seguem operando normalmente”, afirma um comunicado do grupo.

No Brasil, até a publicação desta reportagem, não havia relatos de problemas relacionados ao apagão global.

Hospitais e postos de saúde

O apagão também afetou hospitais e clínicas pela Europa.

No Reino Unido, vários postos de saúde só estão atendendo casos urgentes, por causa da dificuldade para acessar registros médicos dos pacientes pelo sistema online.

Também há relatos de dificuldades para agendar consultas.

Na Alemanha, dois hospitais no norte do país, nas cidades de Luebeck e Kiel, cancelaram cirurgias eletivas marcadas para sexta (19/07).

Israel disse que 15 hospitais estão utilizando processos manuais de registro, embora o apagão não tenha afetado tratamentos médicos.

Sistema de pagamentos

Várias lojas em países europeus reportaram problemas para processar pagamentos.

No Reino Unido, grandes supermercados como Morrisons e Waitrose passaram a manhã de sexta sem aceitar pagamento por aproximação.

O mesmo ocorreu em supermercados na Austrália, onde supermercados e também instituições financeiras, como o Banco Nacional da Austrália, informaram terem sido afetados pelo apagão.

Fonte: Apagão cibernético global afeta voos, bancos e serviço de emergência – BBC News Brasil
Em meio a apagão global, a operação em diversos aeroportos ao redor do mundo foi afetada – DANIEL CONS/EPA-EFE/REX/SHUTTERSTOCK

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