Síndrome de Kardashians!
Uma das referências mais duradoras e pioneiras do excesso de exposição pública, são as irmãs Kardashians, desde o lançamento do Reality Show: Keeping Up with Kardashians do canal EI Entertainment no ano de 2007, de onde, saltaram para o universo das Redes Sociais com uma explosão de vídeos, fotos, polêmicas, fofocas e toda ordem de exibicionismo capaz de se mantê-las no foco midiático atingindo sucessivos recordes de audiência em suas postagens no Twitter e nas demais mídias sociais. O modelo do ponto de vista do retorno financeiro é extraordinário, basta dizer que Kim Kardashian faturou apenas em 2015, durante o período de um dos “Realities”, a bagatela de US$53 milhões com a venda de produtos, direito de imagem etc. Imagine o acumulado das irmãs de lá para cá !
A necessidade de “ser reconhecido” que figura no ápice da Pirâmide de Maslow como: “Status e Estima” e na Declaração Universal dos Direitos Humanos no Artigo 6: “Todo ser humano tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecido como pessoa perante a lei”, refere-se naturalmente, ao reconhecimento do valor que uma existência individual tem para o coletivo independente de suas condições sociais, raça, opções de gênero e áreas de interesse. Contudo, a vaidade humana em tempos de altíssima exposição midiática facilitada pela Internet, revela alguns aspectos quase doentios desta necessidade de ser visto, ser reconhecido, estar exposto!
Os Mortos Vivos do Ciberespaço!
Recentemente a Microsoft anunciou sua patente de uma tecnologia de Chatbox capaz de “eternizar” uma pessoa, baseando-se nas informações coletadas em suas redes sociais, reprodução de voz, imagens de fotos e vídeos, artigos, comentários, livros publicados, perfis que segue, áreas de maior interação, hobbies entre outras fontes de dados capazes de apoiar o aprendizado de máquina (machine learning) para reproduzir sua existência virtual mesmo após o seu falecimento. A patente prevê que os usuários possam interagir com a versão criada de seus entes queridos, mas também de amigos, celebridades e outras pessoas que tenham interesse em manter relacionamento. Interessados em criar suas próprias versões, treinando a Inteligência Artificial para que possam absorver em profundidade seus conceitos, valores , crenças, memórias, experiências, habilidades etc ainda em Vida, poderão optar por esta modalidade e deixar sua Versão Pós-Morte como “legado” aos parentes, amigos etc.
Considerando o avanço das tecnologias utilizadas na “Deep Fake”, sincronizando voz e imagens, atribuindo falsas autorias de declarações, discursos, além de gerarem modelos, personalidades e todo tipo de pessoas com alto grau de realismo, mas que jamais existiram, pode-se esperar por muita confusão no futuro breve. Por exemplo, os parentes terão direito sobre a imagem, a voz, as idéias de seus entes falecidos? Poderão evitar suas reproduções fictícias? Segundo consta, já tem uma corrida de celebridades para garantirem seus direitos póstumos na venda de produtos e serviços que utilizem sua imagem e voz depois que morrerem. Para além do legado familiar, muitos enxergam nesta nova tecnologia uma oportunidade fantástica que possibilite a “eternização de suas personalidades”, ou seja, a motivação maior é movida pela vaidade de se tornarem “Influencers Imortais”.
Em 2012, no Festival de Música, chamado, Coachella, o rapper Snoop Dogg, trouxe ao palco seu parceiro Tupac Shakur , causando histeria na Platéia, uma vez que Tupac já havia morrido faziam 16 anos. A versão holográfica do músico gerou uma repercussão mundial, ampliando a venda de seu disco póstumo: “Greatest Hits” em 571%, figurando entre os 200 mais vendidos da Billboard.
Artistas mortos, como Michael Jackson, Elvis Presley (mais de 200 marcas licenciadas com sua grife), Marilyn Monroe e diversos outros, seguem faturando milhões de dólares e não saem do imaginário popular. Talvez este fato inspire as atuais celebridades na busca da perpetuidade digital.
Entre o Ópio Digital a Eternidade da Alma!
Pelo que tudo indica, o “Efeito Kardashian” gerou um padrão de comportamento que move milhões de pessoas em suas exposições diárias nas redes sociais, numa sociedade que valoriza a imagem e busca se diferenciar em grau de importância pelo número de curtidas e visualizações que acumula. A noção de sucesso de uma empresa ou de uma pessoa, medida por estes parâmetros e pelo número de seguidores que é capaz de mobilizar, enriquece na verdade, a elite mais rica e poderosa do mundo atual, que se alimenta destas vaidades, da necessidade destes reconhecimentos e da própria dependência das pessoas de se manterem conectadas (veja o Documentário:“O Dilema das Redes” na Netflix).
Assim como no mundo das drogas, onde fornecedores não consomem o produto que vendem, curiosamente, os gurus digitais mantêm seus filhos desconectados das telas na maior parte do tempo, impondo inclusive cláusulas contratuais prevendo multas para as Babás que forem surpreendidas usando algum dispositivo digital na presença deles. Outro aspecto relevante na educação dos seus herdeiros é a discrição, evitando ao máximo suas exposições. Curiosamente os clientes das empresas de redes sociais (a maioria de nós), são chamados de “Usuários” e não por acaso.
O Dramaturgo Romano, Séneca, um dos pais do Estoicismo (4 AC a 65 DC) em sua saudação ao amigo Lucílio, ao referir-se a imortalidade da Alma, escreveu: (Ela) não permite que restrinjam a sua duração. “Todos os anos são meus”, diz ela, “não existe época proibida aos grandes espíritos; não há idade inalcançável ao pensamento. Quando surgir o dia em que se dividirá o que é humano e divino, este corpo ficará ali mesmo onde foi encontrado e eu me reunirei aos deuses. Mesmo agora não estou longe deles, apenas ainda sou detida pela existência terrestre.”
A opção de alguns é de se manter detidos pela existência terrestre no culto às suas personalidades, eu fico com Séneca e escolho me reuni aos deuses, na espiral ascendente do despertar de Consciência e Você?
Namastech!
Fonte: gilbertolimajr / Correio Brasiliense