Eduardo Tadao foi fundamental para a chegada da internet no Brasil

Ex-coordenador da RNP, que morreu em 6 de abril, batalhou em várias frentes para que as primeiras redes do País funcionassem

Tadao Takahashi, fundador da RNP, faz parte do Hall da Fama da Internet desde 2017
Tadao Takahashi, fundador da RNP, faz parte do Hall da Fama da Internet desde 2017

No final dos anos 1980 embarcamos numa aventura, que teve como um de seus principais timoneiros Eduardo Tadao Takahashi, que nos deixou em 6 de abril. Pode ser interessante rever o clima e as condições do período crítico, entre 1987 a 1992.

O contexto era de uma crescente angústia na comunidade acadêmica para que se lograsse comunicação eletrônica internacional. Pesquisadores que voltavam ao Brasil de trabalhos ou estudos no exterior, tinham se valido dos benefícios do acesso a redes, tanto para o intercâmbio com colegas, como na submissão remota de atividades a um centro.

Como exemplo, em 1986 a NSF (National Science Foundation) já tinha conectado cinco centros de supercomputação nos EUA por linhas que cruzavam seu território. Tadao postulava a criação no Brasil de uma rede acadêmica nacional de computadores conectada internacionalmente, e era apoiado pela comunidade acadêmica. No lado paulista, Oscar Sala presidia a Fapesp e decidiu buscar uma conexão que atendesse, ao menos, às três universidades estaduais paulistas.

Em 1987, esses grupos se encontraram numa reunião na Escola Politécnica da USP, sincronizaram suas informações e planejaram os próximos passos. Em 1988 uma linha ligou o LNCC a Maryland, enquanto outra linha ligaria a Fapesp ao Laboratório Fermi, Illinois. Assim, o lado paulista, ANSP, e a iniciativa nacional agora batizada RNP, interligavam-se a uma rede acadêmica nacional. Ambas foram inauguradas em 1989. Durante a feira da Sucesu, foi alocado um estande para demonstração de redes eletrônicas. Tadao, já coordenador da RNP, não se furtaria em ajudar a carregar terminais, limpar e montar o estande, conectar os modems e demonstrar a rede aos curiosos.

O aspecto mais crítico a vencer era o político. Como explicar o uso de protocolos não “oficiais” (Bitnet, Decnet,TCP/IP) no País, quando a “opção ungida”, usada pelo sistema Telebrás, era Renpac, o Videotexto e o Transdata, componentes da pilha OSI? Como conseguir a permissão para compartilhar linhas que alimentassem a rede? E como lidar com “dados transfronteiriços”? Tadao batalhou em todas essas frentes até o sucesso, que se configurou com a entrada do TCP/IP na linha da Fapesp em 1991, e com a ECO-92 consolidando o uso primordial de TCP/IP na RNP. Uma semana antes de morrer, Tadao me visitou. Estava animado e cheio de novas ideias. A chama da vida se apagaria inesperadamente cinco dias depois. Mario Quintana: “Que importa restarem cinzas se a chama foi bela e alta?”

Fonte: Estadão

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