Inovação em fontes limpas alavanca transição energética

Participação de recursos renováveis na matriz energética do Brasil é 3 vezes a média mundial. Tecnologias ajudam a ampliar presença

Segmentos, empresas e negócios que se alinham às questões relacionadas à sustentabilidade reconhecem as energias limpas como um dos principais fatores para impulsionar o Brasil rumo à economia de baixo carbono. Nesse cenário, as vantagens competitivas decorrentes da abundância de recursos naturais precisam despontar, indicam representantes do setor industrial. Além disso, alertam, é necessário investir em soluções inovadoras, a fim de que o uso desses insumos seja também mais eficiente.

A importância e os caminhos da transição energética são temas desta 2ª reportagem da série “Estratégia da indústria para uma economia de baixo carbono”.

As fontes renováveis no Brasil são naturalmente pujantes e assumem relevância em um país que apresenta 58% do território com ampla cobertura florestal, a 2ª maior produção mundial de biocombustíveis e a mais elevada oferta hídrica do planeta (12% das reservas).

Tais diferenciais repercutem na matriz energética nacional, que conta com 45% de participação das fontes renováveis, informa o Relatório Síntese do BEN (Balanço Energético Nacional) 2022, elaborado pela EPE (Empresa de Pesquisa Energética) com base em números de 2021. O percentual é 3 vezes a média global mais recente, de 2019, divulgada no estudo. Naquele ano, as energias renováveis responderam por 14%, em média, da matriz energética mundial. Em relação à matriz elétrica, a presença é ainda mais expressiva. O índice de renovabilidade atingiu 78%, contra 27% da média mundial.

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Na avaliação do gerente-executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Davi Bomtempo, a diversificação proporcionada pelas fontes eólica, hidráulica, solar e biomassa (material orgânico) nesse arranjo é preponderante para mitigar os riscos no suprimento de energia aos consumidores, trazendo mais segurança aos agentes do mercado.

“Isso se constrói com incentivos à inovação e linhas de financiamento para expansão e modernização da infraestrutura de geração de energia. Segurança energética e energias limpas são os temas mais recorrentes hoje nos fóruns internacionais. A complementariedade das fontes permite que, na eventualidade de uma se tornar escassa, outra entre de forma a suprir a demanda”, disse.

Episódio recente corrobora essa visão. A crise hídrica de 2021 mostrou que a multiplicidade de fontes de energia para geração de eletricidade amenizou os efeitos negativos da escassez de chuva. Apesar da baixa verificada no nível dos reservatórios e na produção de hidroeletricidade, o quadro foi compensado pelo aumento da oferta de outras fontes, incluindo a eólica (+27%) e a solar fotovoltaica (+56%), em comparação com o ano de 2020.

A fatia de 45% das renováveis na matriz energética “representou uma redução conjuntural em relação aos 48% de 2020, mas um avanço em relação aos 39,5% observados em 2014, ano também impactado por escassez hídrica”, comparou a EPE na divulgação do Relatório Síntese.

Diretor-presidente e diretor de Relações com Investidores da Engie Brasil EnergiaEduardo Sattamini atesta que, em razão da amplitude da matriz, o setor elétrico brasileiro vive um momento extremamente relevante no contexto global de aceleração para uma economia de baixo carbono.

“Temos no país os fatores essenciais para a transição. Na Engie, acreditamos que não precisaremos de uma só tecnologia, mas de um mix delas, fator que baseia nossas decisões de investimentos”, afirmou o dirigente da empresa, com atuação focada na inovação para geração, comercialização e transmissão de energia.

No entendimento do presidente da EPE, Thiago Barral, a cadeia energética tem contribuição determinante a dar, mas é fundamental não somente ponderar sobre os potenciais benefícios ambientais, econômicos e sociais, mas também refletir sobre como as estratégias e o ritmo dessa trajetória de descarbonização vão incidir sobre a segurança do suprimento e os custos em curto, médio e longo prazos.

Essa questão está no centro do debate global sobre a transição energética. Uma coisa é sair de 20% de renováveis para 40%; outra coisa é sair de 50% para 70% ou 90%. Ademais, segundo a AIE (Agência Internacional de Energia, na sigla em português), 40% das tecnologias necessárias para alcançar a neutralidade de carbono no setor energético até 2050 ainda não estão disponíveis ou maduras.”

ESTRATÉGIA ESTÁ ALINHADA AOS COMPROMISSOS DO ACORDO DE PARIS

É com o apoio das energias renováveis que o país busca, nesta década decisiva, cumprir os compromissos pactuados pelas 196 nações signatárias do Acordo de Paris de 2015. As metas verdes brasileiras incluem a redução das emissões de GEE (gases de efeito estufa) em 37% até 2025 e em 50% até 2030, em relação a 2005, em um esforço mundial de manter o aquecimento global no limite máximo de 1,5 ºC.

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Estatísticas setoriais mais recentes mostram como as energias renováveis contribuem para o cumprimento das metas brasileiras. A fonte solar fotovoltaica, por exemplo, evitou o lançamento de 24,6 milhões de toneladas de CO2 na produção de eletricidade no país desde 2012, demonstra levantamento da Absolar (Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica). Em 2022, a energia solar fotovoltaica ultrapassou a marca histórica de 16 GW de potência instalada da fonte, respondendo por cerca de 8% de toda a oferta de energia elétrica no Brasil.

O emprego da biomassa forneceu 20,2 mil GWh para a rede elétrica em 2021, reduzindo em 7 milhões de toneladas as emissões de COno último ano, feito que apenas seria alcançado com o cultivo de 49 milhões de árvores nativas ao longo de 2 décadas, de acordo com levantamentos da publicação “Bioeletricidade em Números”, elaborada pela Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia).

Já por meio da força dos ventos no país, evitou-se, em 2021, a emissão de 34,4 milhões de toneladas de CO2, o correspondente ao que emitem, anualmente, 34 milhões de automóveis de passeio, segundo o Boletim Anual da Abeeólica (Associação Brasileira de Energia Eólica).

Nessa paleta de fontes renováveis, Davi Bomtempo, da CNI, chama atenção para o aproveitamento energético do hidrogênio como alternativa eficaz à descarbonização da economia global.  Especialmente o hidrogênio verde, obtido a partir de fontes renováveis, é uma opção que não emite GEE em sua produção, tem alto poder calorífico (quantidade de energia interna) e capacidade de acelerar a neutralidade climática até 2050.

“O hidrogênio verde é um dos temas mais discutidos no Brasil e no mundo quando tratamos de transição energética. A região Nordeste, principalmente os Estados do Ceará e do Rio Grande do Norte, tem atraído investimentos significativos de países europeus, que apostam nesse combustível como alternativa aos de origem fóssil, e tem sido apontado como o ‘combustível do futuro’. Segundo estudo da McKinsey, o Brasil tem o potencial de se tornar líder na produção de hidrogênio verde e atrair US$ 200 bilhões em investimentos nos próximos 20 anos. A intenção desses países é importar o hidrogênio verde produzido pelo Brasil e garantir uma matriz energética mais limpa.”

O gerente-executivo da CNI diz, contudo, que a geração do hidrogênio verde em larga escala ainda enfrenta alguns desafios, como a necessidade de reduzir os custos de armazenamento e transporte.

A diminuição do custo foi medida fundamental para encorpar competitivamente as usinas eólicas e solares, mas ainda há batalhas a serem vencidas e estratégias a serem tomadas, explica Eduardo Sattamini, da Engie Brasil. “As novas tecnologias e a inovação tornaram os aerogeradores muito mais potentes, e o amadurecimento global da energia solar possibilitou a diminuição do custo das placas fotovoltaicas. Todavia, temos no país outros desafios, como o impacto das mudanças climáticas nos ciclos hídricos e a intermitência da geração eólica e solar”, disse o diretor-presidente da empresa.

Para responder a essas e outras necessidades, completa, a Engie Brasil tem por ambição ampliar a produção de hidrogênio verde até 2030, inclusive para apoiar setores intensivos em carbono que não podem facilmente ser eletrificados, como siderurgia, mineração, química e petroquímica. Fomentando a exportação do combustível, é possível “acelerar a transição energética global, atendendo à crescente demanda do mercado externo por energia renovável”, segundo Sattamini.

Thiago Barral, da EPE (Empresa de Pesquisa Energética), frisa que, mesmo para as tecnologias importadas, há um trabalho importante de inovação para sua adaptação à realidade regional e local.

“Prova disso foram as diversas inovações da indústria eólica para as características do vento brasileiro, que é diferente do vento europeu, o que resultou em reduções de custo dos equipamentos e ganhos de competitividade.”

O presidente da EPE pontua que o mercado admite a premência de se instituir um ambiente de negócios propício para que as empresas acelerem os investimentos na economia de baixo carbono.

A reforma e o aprimoramento dos desenhos de mercado e do arcabouço regulatório, com foco na remoção de barreiras para novas tecnologias, modelos de negócios e empresas, são fundamentais, permitindo que novas soluções contestem de forma competitiva as soluções tradicionais, o que exige tanto quanto possível uma abordagem neutra sobre as tecnologias em si. As novas tecnologias, porém, não são um fim em si mesmas, e devem ser adotadas a partir de uma racionalidade econômica e social”, afirmou.

AÇÕES E PROJETOS COMPÕEM COMPROMISSO DA INDÚSTRIA

Na indústria, as iniciativas sustentáveis são executadas em variados segmentos. Vão desde a utilização em fábrica têxtil de fio reciclável na confecção de moletons –a partir de roupas em desgaste que seriam descartadas–, passando pelo reúso de cápsulas de café e chegando ao emprego de energia solar em engenho para preparar cachaça orgânica. “Esses e outros cases envolvendo preservação e tecnologia estão reunidos no site Indústria Verde (industriaverde.com.br), da CNI”, disse Bomtempo.

No que toca a projetos que visem à eficiência energética, o gerente-executivo da entidade menciona com protagonismo o Programa Aliança, desenvolvido pela Confederação em parceria com a Eletrobras, por meio do Procel (Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica), e a Abrace (Associação dos Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres).

No 1º ciclo (2017-2020), as intervenções promovidas trouxeram às 12 grandes plantas industriais participantes do programa uma economia total de energia superior a 176 GWh, o suficiente para abastecer uma cidade de 60 mil habitantes por ano. Cada R$ 1 aportado pelas companhias aferiu retorno de R$ 3,4 por ano em economia de energia. O payback médio das melhorias implementadas deu-se em curtíssimo prazo, em menos de um mês.

“Na 1ª fase, R$ 5,5 milhões de investimento em ações do programa reduziram em mais de R$ 120 milhões o custo de energia. A partir desses resultados, estruturamos o dobro de plantas, já com metas desafiadoras, as quais deverão ser atingidas até 2025. A eficiência no uso da energia é acompanhada da redução das emissões de GEE para as 24 plantas industriais que aderirem ao Aliança 2.0. Entre os objetivos, estão a redução de 40 mil toneladas de CO2 em emissões de GEE e a redução de R$ 90 milhões nos custos operacionais”, afirmou Bomtempo.

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Sobre os esforços de eficiência energética e a busca pela energia limpa, Thiago Barral vislumbra as mudanças a serem experimentadas pelo consumidor e reitera a responsabilidade do poder público em promover os aprimoramentos legais e regulatórios para darem conta das oportunidades criadas pela transição energética e pela transformação digital. 

“Mais empoderado, o consumidor estará em posição de exigir sua parcela na redução de custos viabilizada por essas tecnologias, ao mesmo tempo em que poderá sinalizar preferência por soluções mais sustentáveis, desde que haja informação adequada e transparente para isso. O setor público também tem papel na formação profissional e no fomento à ciência e tecnologia, por meio de investimentos públicos ou publicamente orientados.”

Na Engie Brasil, houve um aumento expressivo por parte das empresas clientes e parceiras na busca pelos chamados produtos verdes, elevando em 10 vezes a comercialização de Certificados de Energia Renovável em 2021, utilizados para reportar a contração de emissões de escopo 2, aquelas geradas pela compra de energia elétrica da rede, totalizando 8 mil GWh.

“Para nossos clientes do mercado livre de energia, a Engie oferece uma gama de soluções ancorada na digitalização, tais como o Energy Place, plataforma que oferece a compra de energia para curto e longo prazos de forma 100% digital. Além de e-commerce, há informações importantes para o gerenciamento dos contratos: histórico de consumo, dados segmentados por unidades consumidoras e garantias financeiras, entre outros aspectos relevantes”, disse Eduardo Sattamini.


A publicação deste conteúdo foi paga pela CNI. É a 2ª reportagem da série “Estratégia da indústria para uma economia de baixo carbono”. Conheça a divisão do Poder Conteúdo Patrocinado

Fonte: Inovação em fontes limpas alavanca transição energética | Poder360

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