Nos últimos anos, países emergentes têm avançado na geração de inovações tecnológicas, alterando a tendência histórica de concentração das inovações nos países do Grupo dos Sete (G-7). A maior parte dessas inovações têm sido desenvolvidas nos países do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), principalmente na China.1
A China, em particular, vem realizando um notável e bem sucedido esforço em termos de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) e de inovação tecnológica que não apenas tem repercussões globais como também estimula através da cooperação bilateral outros países emergentes a absorver conhecimento e envidar esforços para aumentar sua participação no desenvolvimento e aplicação de novas tecnologias.2
Em um contexto global de mudanças, a China tomou duas importantes iniciativas de políticas na área da inovação: o 12º Plano Quinquenal (2011-2015) e o Plano Nacional de Médio e Longo Prazo para o Desenvolvimento Ciência e Tecnologia (2006-2020). O Plano Quinquenal aportou US$ 1,7 trilhão para diversos setores estratégicos como energias renováveis, biotecnologia, tecnologias eficientes e ecologicamente corretas, carros elétricos e uma nova geração de Tecnologia da Informação (TI). Por outro lado, o Plano Nacional de médio e longo prazo buscou fazer face ao desafio de aumentar a capacidade de inovação do setor empresarial chinês.Ademais, aChina aprovou em março de 2021 seu 14º Plano Quinquenal, com um roteiro de desenvolvimento do país no período 2021 a 2025, baseado na sustentabilidade e na busca de autossuficiência tecnológica.
No campo das energias renováveis, em 2017, uma equipe do Instituto de Física e Química de Dalian (DICP) e da Companhia de Tecnologia da Energia Futian de Zhuhai na China, coordenada pelo professor Sun Jian, propôs uma nova técnica de hidrogenação do dióxido de carbono (CO2),3 de modo a permitir a geração de gasolina diretamente do gás de efeito estufa (GEE). Ao contrário de outras iniciativas de conversão do CO2 em combustíveis líquidos, esta se mostrou tão promissora que a Academia Chinesa de Ciências (CASS) financiou a construção de uma unidade piloto para testar a tecnologia.4
A planta-piloto chinesa de hidrogenação do dióxido de carbono acaba de completar um ano de testes, tendo alcançado a marca de 1.000 toneladas por ano de gasolina produzida a partir do gás carbônico. A equipe do professor Jian encontrou um catalisador multifuncional à base de ferro que se mostrou eficiente e estável, uma vez que realiza a conversão tanto do CO2 quanto do Hidrogênio (H2) com uma eficiência de 95% e seletividade para a gasolina de 85%, tudo em condições similares às usadas na indústria. O processo poderá ser alimentado com energias limpas intermitentes, como a energia solar e a energia eólica, utilizando uma bateria para alimentar ou gerar eletricidade para a rede quando não houver sol ou ventos.5
O avanço de P&D chinês marca um novo estágio da tecnologia de utilização de recursos de CO2 no mundo e fornece uma estratégia viável para atingir a meta de neutralidade de carbono. De fato, a hidrogenação de CO2 em combustíveis líquidos e produtos químicos não apenas contribui para minimizar o problema do excesso de dióxido de carbono liberado na atmosfera, como também facilitar o armazenamento e o transporte de energias renováveis.6
A China está na vanguarda do desenvolvimento mundial em energias renováveis, como a eólica e a solar, e é líder na adoção de veículos elétricos, uma das principais fronteiras da transição energética que o mundo deverá se defrontar nas próximas décadas. No esforço de combate às mudanças climáticas, a China tem por meta zerar suas emissões líquidas de gases que provocam o GEE até 2060 e, em julho de 2021, lançou o seu mercado de carbono, que já nasceu como o maior do mundo. O Brasil pode ser um dos principais países para suprir a demanda futura de crédito de carbono da China.7
Além da inovação para a sustentabilidade ambiental e mudança climática, a China desponta como um dos líderes em áreas que definirão o futuro da promissora economia digital. Conforme estudo recente do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC, 2021), o país asiático também detém soluções tecnológicas inovadoras em setores como cidades inteligentes, mobilidade urbana, comércio eletrônico e saúde e educação à distância. Tais avanços podem ser adaptados à realidade brasileira, com impacto positivo sobre a qualidade de vida da população. O aprofundamento da cooperação da China com o Brasil em tecnologia e inovação também poderá induzir o aperfeiçoamento da capacidade produtiva brasileira, que passará necessariamente pela indústria 4.0 e por práticas de agricultura de precisão que ganharão escala com a maior conectividade nas zonas rurais.7
Fonte: jornaltribuna