Os Ganhos Bilionários da Inovação Tecnológica
Quando falamos de inovação, consideramos sempre algumas características: se ela é incremental, ou seja, representa uma forma nova de utilizar ou potencializar o resultado de um produto ou de um processo já existente ou se por acaso refere-se a uma inovação radical, significa dizer a reinvenção da forma tradicional de se realizar determinadas tarefas. O Relógio a quartzo, substituiu os típicos relógios movidos a corda; a ignição eletrônica, eliminou a existência dos carburadores; os “Smart Phones”, como o iPhone da Apple (2007), revolucionaram a utilização dos aparelhos de telefones; aplicativos de trânsito, como o “Waze”(2008) deram fim aos imensos catálogos de mapas com as rotas de trânsito para os motoristas; os carros elétricos e autônomos reinventarão o conceito de mobilidade humana e daí por diante.
Como ser contra as facilidades e infinitas possibilidades proporcionadas pela Tecnologia? Num mundo digital, as funcionalidades que geram conforto, otimização de tempo e novas perspectivas pessoais e profissionais, são rapidamente incorporadas ao cotidiano dos usuários. Esta rápida adaptabilidade, instantaneidade na incorporação tecnológica, por outro lado, tem trazido também, uma forte intoxicação digital e um nível inimaginável de dependência da conectividade. Os especialistas apontam também para distúrbios do sono, distúrbios neurológicos, sedentarismo e distanciamento social com diversas consequências psicológicas. As empresas de Tecnologia/Mídia, alcançaram mesmo antes da pandemia, números recordes de faturamento e ocupam 6 das 10 posições entre as maiores marcas em faturamento no Ranking Mundial (de todos os setores), isso porque a Amazon que figura no Ranking é enquadrada como Varejo. De acordo com o Relatório da Brand Finance 02/2020, são elas:
(1) Amazon: US$ 221 bilhões (varejo),
(2) Google: US$ 160 bilhões (tecnologia),
(3) Apple: US$ 141 bilhões (tecnologia),
(4) Microsoft: US$ 117 bilhões (tecnologia),
(5) Samsung: US$ 94 bilhões (tecnologia),
(6) Facebook: US$ 80 bilhões (mídia).
Os fundadores de algumas destas empresas lideram o Ranking dos maiores bilionários do mundo: Jeff Bezos (primeiro) – Amazon; Bill Gates (segundo) – Microsoft; Mark Zuckerberg (sétimo) – Facebook, Instagram, Whatsapp; Larry Page (décimo terceiro) – Google.
Quanto mais sentimos necessidade de nos atualizarmos na utilização dos novos recursos e aplicativos, mais alimentamos seus cofres. A interação humana na medida que se concentra na via digital, paga um pedágio bastante caro para estas empresas e o pior é que a maioria de nós, tem a ilusão de que todo este mar de facilidades no acesso ao cyberespaço é gratuito! Existe uma máxima, cunhada pelo Jornalista Andrew Lewis: “Se você não está pagando pelo produto, é sinal que o produto é Você”. Esta e outras frases assustadoras constam no documentário: “O Dilema das Redes”.
Nele, depoimentos de ex-funcionários da mais alta hierarquia das empresas líderes das redes sociais, como engenheiros, vice-presidentes, presidentes, chefes de segurança da informação e de outros departamentos, denunciam a mudança no propósito original destas corporações e o que elas se tornaram. Veja mais algumas frases destes pioneiros das redes sociais:
“O capitalismo obtendo lucro pelo rastreamento infinito do que cada pessoa faz, monitoradas por empresas de tecnologia que têm como modelo de negócio a garantia de que os anunciantes terão o máximo de sucesso”.
“Saímos da era da informação para entrar na era da desinformação. Nossa democracia está sob ataque”.
“Quanto tempo conseguiremos te fazer gastar? Quanto da sua vida podemos te convencer a nos dar?”
Diante destas revelações, não resta mais dúvidas do quanto é urgente reduzirmos a dependência tecnológica e questionarmos os novos padrões estabelecidos. Como tornar mais justo o preço imposto por uma economia digital exploratória de mão de obra barata como no caso dos profissionais de entregas ou de transporte de passageiros? Como encararmos o fato de que somos o produto e ao mesmo tempo os garimpeiros de uma riqueza, onde os recursos são os dados de todos nós atualizados através de nossas interatividades cada vez mais virtuais? O primeiro passo é tomar consciência, reconhecer os excessos e disciplinar-se enquanto usuários, além de apoiar regulações que envolvam as relações trabalhistas e de privacidade de dados, bem como a decisão de priorizar a vida fora das telas, com a melhor conexão possível com a natureza, com o olhar dos entes queridos, familiares e amigos. Como avaliar o risco de ser uma “presa digital”? Faça uma autoanálise sobre as questões a seguir:
– Quantas horas você dedica por dia em redes sociais, incluindo grupos de whatsapp, telegram etc?
– Quando sai de casa e esquece o celular, você volta para buscá-lo ou consegue passar algumas horas sem ele?
– Ao som ou sinal das notificações de mensagens e redes sociais você interrompe o que está a fazer e vai dar uma espiadinha?
– Sofre ao observar postagens alheias nas redes sociais que remetem a ideia de sucesso, ou seja, você se compara?
– “Bateu Boca” em chats de Lives ou em comentários de postagens?
– Já discutiu com alguém da família por te cobrar atenção e dizer que você não larga o celular?
– Já se endividou ou arrependeu de ser impulsivo(a) em compras “online” ?
A Fratelli Tutti e o mundo virtual
Independente de fé religiosa, é imprescindível prestar atenção num dos melhores chamados para a reflexão humana de todos os tempos, protagonizado pelo Papa Francisco, que surpreendeu o mundo com o extraordinário teor de sua última encíclica: “Fratelli Tutti” (Todos Irmãos). Nas referências específicas às redes sociais, o Pontífice posicionou-se firmemente, vejamos algumas de suas citações sobre o mundo virtual: “formas insólitas de agressividade, com insultos, impropérios, difamação, afrontas verbais até destroçar a figura do outro”. “Aquilo que ainda há pouco tempo uma pessoa não podia dizer sem correr o risco de perder o respeito de todos, hoje pode ser pronunciado com toda a grosseria, até por algumas autoridades políticas, e ficar impune”.
Referindo-se aos controladores das redes sociais, disse: “São capazes de realizar formas de controle que são tão sutis quanto invasivas, criando mecanismos de manipulação das consciências e do processo democrático”.
Sobre a Privacidade: “Se, por um lado, crescem as atitudes fechadas e intolerantes que, à vista dos outros, nos fecham em nós próprios, por outro, reduzem-se ou desaparecem as distâncias, a ponto de deixar de existir o direito à intimidade. Tudo se torna uma espécie de espetáculo que pode ser espiado, observado, e a vida acaba exposta a um controle constante”.
Sobre a superficialidade: “As conversas giram, em última análise, ao redor das notícias mais recentes; são meramente horizontais e cumulativas. Mas não se presta uma atenção prolongada e penetrante ao coração da vida, nem se reconhece o que é essencial para dar um sentido à existência. Assim, a liberdade transforma-se numa ilusão que nos vendem, confundindo-se com a liberdade de navegar frente a um visor. O problema é que um caminho de fraternidade, local e universal, só pode ser percorrido por espíritos livres e dispostos a encontros reais”.
Sobre a dependência digital: “as relações digitais, que dispensam a fadiga de cultivar uma amizade, uma reciprocidade estável e até um consenso que amadurece com o tempo, têm uma aparência de sociabilidade, mas não constroem verdadeiramente um ‘nós’; na verdade, habitualmente dissimulam e ampliam o mesmo individualismo que se manifesta na xenofobia e no desprezo dos frágeis”.
O líder da Doutrina Espírita, Divaldo Franco, em 2016, referiu-se aos excessos tecnológicos dos seres humanos: “Após haver criado com alta tecnologia as máquinas e até mesmo o cérebro artificial, vem-se tornando escravo das suas exigências. Estamos no auge da comunicação virtual e uma grande parte da sociedade encontra-se ‘conectada’ nesse mundo, perdendo as excelentes oportunidades da convivência pessoal. É, sem dúvida, um momento embaraçoso e grave, porque o individualismo toma-lhe conta e o exaure com o excesso de informações rápidas e sem grande sentido. Logo, como já vem ocorrendo, surge a ‘saturação tecnológica’, a falta de objetivo psicológico na existência, provocando a solidão avassaladora que culmina nos transtornos de várias denominações, inclusive, a depressão”.
Que a Vida Tridimensional sempre tão desafiadora e rica, possa com seus perfumes, belezas e riquezas como a profundidade de um olhar ou o calor de um abraço, te encontrar disponível para degustar os sabores, a delicadeza dos toques e a alegria da convivência, tendo o existir bidimensional (telas), apenas como instrumento na misteriosa descoberta de si mesmo a partir das interações reais, perceptíveis e tangíveis nas relações essenciais, diárias.
“É imprescindível prestar atenção num dos melhores chamados para a reflexão humana de todos os tempos, protagonizado pelo Papa Francisco, que surpreendeu o mundo com sua última encíclica Fratelli Tutti: ‘Os controladores das redes sociais são capazes de realizar formas de controle que são tão sutis quanto invasivas, criando mecanismos de manipulação das consciências e do processo democrático’”, escreve Gilberto Lima Jr., em artigo para a coluna “Rumo a Assis: na direção da Economia de Francisco”, publicada semanalmente pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU.
Gilberto Lima Jr. é empresário, presidente do Instituto Illuminante de Inovação, mentor de empresas de base tecnológica, palestrante e colunista do Correio Braziliense.