Em sua Obra: “Sobre a China” o diplomata mais destacado e controverso de todos os tempos, que negociou a relação norte-americana com a Ásia, Henry Kissinger, apresenta histórias fascinantes sobre o “Império do Meio”. Kissinger esteve mais de 50 vezes na China e foi ele o responsável por uma aproximação estratégica entre China e Estados Unidos, na altura (1972) em que os líderes Mao Tsé-tung e Richard Nixon quebraram 20 anos de jejum nas relações diplomáticas. “Nenhum país tem uma ligação maior com o passado … do que a China. Por isso qualquer tentativa de entender seu futuro papel no mundo deve se começar com a apreciação de sua longa história. Durante séculos, a China raramente encontrava outras sociedades com tamanho e sofisticações comparáveis; ela era o ‘Império do Meio’ e tratava as regiões periféricas como Estados vassalos.”, afirma Kissinger na contracapa do seu livro.
As celebrações dos 100 anos do Partido Comunista Chinês neste ano de 2021, recapitulam uma saga de expulsão de invasores estrangeiros (28 anos de confronto com o Japão) e fundação da República Popular da China, encerrando um período semicolonial e semifeudal do país além de um imenso avanço em todas as áreas. Um século depois, exibem um salto exponencial em matéria de desenvolvimento, com o pouso do Rover Chinês Zhurong Mars (Deus do Fogo) em Marte.
Há muito medo e apreensão por parte de países asiáticos alinhados com o Ocidente e do próprio Ocidente com relação ao avanço exponencial da China nos temas tecnológicos, econômico e militar. Donald Trump posicionou-se duramente contra as empresas chinesas, retaliou-as publicamente, impôs sanções e barreiras tarifárias pesadas aos seus produtos e promoveu um verdadeiro “Bullyng Global” ao disseminar os riscos de espionagem do padrão de telecomunicações 5G chinês, liderado pela empresa Huawei. O pano de fundo não é difícil de se enxergar pois a China é séria candidata a Hegemonia Global de Poder. Algumas evidências:
*US$2 Bilhões num único Centro de Referência em IA (lideram o tema da Inteligência artificial mundialmente);
*Domínio do 5G e do 6G;
*800 Fábricas de Robôs Industriais;
*Supremacia Quântica (computação quântica);
*Domínio incomparável da Fusão Nuclear (energia disruptiva);
*Autonomia Espacial (Rover em Marte, Pouso no lado Oculto da Lua e construção da própria Estação Planetária);
*Liderança do maior Tratado de Livre Comércio da história do Mundo (RCEP);
*Lançamento do Yuan Digital como moeda para as Transações Financeiras Internacionais;
*Implantação do Projeto “One Belt, one Road”(em curso e envolve investimentos em infraestrutura de 140 países);
*Domínio da tecnologia CRISPR e outras técnicas avançadas no campo da Genética e da Biotecnologia;
*Investimentos expressivos e substanciais em Pesquisas de novos materiais nanotecnológicos bidimensionais.
Faltava apenas o Domínio Global da Produção de Chips, não falta mais (Veja o Vídeo). https://lnkd.in/eaDcGXe
Um dos mais respeitados Presidentes dos EUA, Jimmy Carter, durante o Governo Trump, teve a coragem de expressar uma autocrítica pouco comum aos estadistas, mas própria da grandeza de sua particular sensatez, equilíbrio e humanismo, ao dirigir-se àquele Presidente americano: “…Você tem medo que a China nos supere, e eu concordo com você. Mas você sabe por que a China nos superará? Eu normalizei relações diplomáticas com Pequim em 1979, desde essa data… você sabe quantas vezes a China entrou em guerra com alguém? Nem uma vez, enquanto nós estamos constantemente em guerra.
Os Estados Unidos é a nação mais guerreira da história do mundo, pois quer impor aos Estados que respondam ao nosso governo e aos valores americanos em todo o Ocidente, e controlar as empresas que dispõem de recursos energéticos em outros países.
A China, por seu lado, está investindo seus recursos em projetos de infraestrutura, ferrovias de alta velocidade intercontinentais e transoceânicos, tecnologia 6G, inteligência robótica, universidades, hospitais, portos e edifícios em vez de usá-los em despesas militares. Quantos quilômetros de ferrovias de alta velocidade temos em nosso país? Nós desperdiçamos U$ 300 bilhões em despesas militares para submeter países que procuravam sair da nossa hegemonia. A China não desperdiçou nem um centavo em guerra, e é por isso que nos ultrapassa em quase todas as áreas.
E se tivéssemos tomado U$ 300 bilhões para instalar infraestruturas, robôs e saúde pública nos EUA teríamos trens bala transoceânicos de alta velocidade. Teríamos pontes que não colapsem, sistema de saúde grátis para os americanos não infectarem mais milhares de americanos do que qualquer país do mundo pelo COVID-19.
Teríamos caminhos que se mantenham adequadamente. Nosso sistema educativo seria tão bom quanto o da Coreia do Sul ou Xangai”.
(Jimmy Carter, na Newsweek Magazine) https://www.newsweek.com/donald-trump-jimmy-carter-china…
A Administração Biden está a dar sequência no endurecimento diplomático e nos últimos dias decretou a proibição de empresas norte-americanas investirem em 59 Empresas da Indústria de Defesa da China, com vistas a prevenir o enfraquecimento da Segurança Nacional dos Estados Unidos.
Por mais que o horizonte de tempo aqui mencionado seja secular, fato é que estamos a conhecer cada dia melhor uma cultura com mais de 5 mil anos de existência. Pessoalmente, frequento o país desde 1996 quando liderei uma Missão de 46 empresários para conhecer o Grande Dragão e importar seus produtos. Regressei algumas vezes e em 2009, tive a honra de responder pela abertura e funcionamento do Escritório Oficial do Brasil na China, altura em que coordenei a Unidade de Internacionalização de Empresas e os Centros de Negócios da Apex Brasil inaugurados em 8 Países, com alcance de 70 mercados.
Desde 2009 até o presente momento ninguém desbancou a China como o maior investidor estrangeiro do Brasil, o que não torna compreensível a maneira que temos tratado este parceiro estratégico nos comportando, como ventríloquos de discursos prontos de uma briga que não é nossa. É lógico que devemos buscar adicionar valor as nossas exportações à China ao invés de entregarmos nossa terra, nossa água e nossos esforços, ao preço de commodities, mas este fato é antes um “dever de casa próprio”, seja na relação com eles ou com qualquer outro parceiro comercial.
Seguimos com míseros 1.2% de participação no comércio exterior global há décadas e entra governo sai governo, nossa “Síndrome de Avestruz” que só olha para baixo, para o próprio mercado, vendendo tudo na porta da fábrica, no local de exploração de nossas jazidas ou na porta da fazenda, sem valor agregado algum, “gastando tubos” na compra de insumos importados e na remuneração dos juros pelo capital financiado por instituições estrangeiras, prossegue inalterável!
Qual é a dificuldade para entender que um país só alcança o status de desenvolvimento competitivo se for capaz de alinhar a sua política macro-econômica, com sua política industrial e a de comércio exterior como nos mostra a China e diversos outros países?
Não precisa ser gênio para saber quais são os nossos gargalos e as possíveis soluções:
- Descentralização da política de promoção das exportações, atualmente concentrada em algumas entidades setoriais;
- Aumento expressivo do quadro de analistas de comércio exterior e profissionais de defesa comercial;
- Definição precisa, minuciosa e estratégica do papel que desejamos representar nas Cadeias Globais de Valor;
- Seleção pragmática dos mercados prioritários e das estratégias de negociação com cada país;
- Firmação de Tratados Bilateriais e Multisetoriais de comércio;
- Multiplicação expressiva dos recursos e dos esforços para a formação de uma cultura exportadora, absolutamente inócuos atualmente;
- Agregação de valor dos produtos e serviços com base em certificações internacionais de Qualidade, Sustentabilidade, Design e Inovação;
- Centralidade e triplicação dos esforços na Atração de Investimentos Estrangeiros especialmente no foco da pesquisa, desenvolvimento e inovação;
- Etc….
O General Sun Tzu (500 AC), na clássica obra: “A Arte da Guerra” ensina muitas lições. Uma que muito me agrada, tem mais a ver mais com o Autoconhecimento do que o entendimento sobre os oponentes: “Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas. Se você se conhece mas não conhece o inimigo, para cada vitória ganha sofrerá também uma derrota. Se você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo, perderá todas as batalhas.”
Se encararmos objetivamente nossas potencialidades e limitações e de maneira pragmática exercitarmos o fortalecimento de nossas fraquezas, fazendo escolhas inteligentes e seletivas quanto as alianças internacionais, sabendo exatamente para onde pretendemos seguir, com quem e de que jeito, teremos chance de figurarmos como protagonistas ao invés de eternos coadjuvantes desavisados em um mundo efervescendo em mudanças e oportunidades e isso só depende de nós!
Namastech!
Por: Gilberto Lima Jr.