Para além do mercado de artes, setores como o imobiliário e o esportivo já estão faturando alto com tokens digitais
por Gilberto Lima – Coluna Namastech
Imagine uma obra de arte, que nunca existiu no mundo físico, ser oferecida num leilão comandado por ninguém menos que a maior casa de leilões do mundo, a Christie´s, e arrematada pela bagatela de US$ 69 milhões (ou R$382 milhões)!
O fato aconteceu no dia 11 de março e o felizardo autor chama-se Mike Winkelmann. Mais conhecido por “Beeple”, é um designer de obras digitais que passa a figurar entre os três artistas vivos mais procurados do mundo. A modalidade NFT (Non-Fungible Token) permitiu que milhares de pessoas ao redor do mundo o conhecessem.
“Não fungíveis” é um termo que se refere à originalidade, ao conceito de ser único. Por exemplo, não existem duas “Monalisas”, da mesma forma que a obra acima, intitulada: “Everyday – The First 5000 Days”. Ela é fruto de 5 mil dias de trabalho do artista, que dedicou-se a criar praticamente uma obra a cada dia, congregando-as como se fossem pixels num mosaico final. Esta criação é única: não se altera, não se modifica, não é fungível. Um token não fungível é, portanto, um identificador único de propriedade de objetos não físicos.
Além deste episódio, outros ativos virtuais de alto valor foram vendidos recentemente. Jack Dorsey, o fundador do Twitter, vendeu o primeiro tweet da história por US$ 2,5 milhões. A artista canadense Calire Elise Boucher, mais conhecida por Grimes e esposa do bilionário Elon Musk, faturou US$6 milhões (aproximadamente R$ 35 milhões) em 20 minutos, tempo de duração de um leilão especializado em NFTs.
Cards esportivos colecionáveis e ingressos para eventos movimentaram também o mercado esportivo através das plataformas especializadas do segmento, como a NBA Top Shot e a Sorare.
NFTs no Brasil
Uma brasileira que já se destaca com muito sucesso no campo dos negócios de impacto social e ambiental é Taynaah Reis, fundadora e CEO da fintech Moeda Semente. A empreendedora levou a sério o desejo de vender música via token digital no Brasil e, para mostrar o potencial da iniciativa, criou um marketplace dedicado a esta finalidade e o batizou de All Be Tuned. Nesta plataforma, os artistas independentes podem emitir e vender suas NFTs de músicas autorais. Para validar o negócio, a própria Taynaah, que também é artista, inaugurou a venda de uma faixa musical NFT e levantou R$60 mil em 24 horas.
“Hoje em dia, no Brasil, é muito difícil comercializar os seus direitos se você não tem uma gravadora que vai fazer sua produção circular. Poder ter a escolha de vender um pedacinho da sua obra em troca de algum dinheiro facilita muito neste período de incerteza. A renda do NFT pode alavancar a carreira do artista, que poderá pagar um produtor musical, produzir um videoclipe, ou até mesmo ajudá-lo a sobreviver”, afirma a empreendedora.
Pelos exemplos, fica evidente que surge um novo mundo entre as fronteiras do carbono e dos bits e bytes e parece que o intangível, especialmente o não fungível, chega com força total. Este movimento eleva o valor dos investimentos em Crypto Arte e outros ativos para patamares jamais imaginados no mercado financeiro, quer pelo montante ou pela forma de se investir.
O NFT é um novo movimento de mercado no embalo da tokenização, que se viabilizou com a utilização das redes blockchain. Para os que estão pouco acostumados ao tema do blockchain, basta dizer que é a infraestrutura que ancora há mais de uma década moedas virtuais como a bitcoin, jamais violada. Um dos motivos de sua robusta segurança é que a rede blockchain se baseia em computação descentralizada com garantia de transparência, inviolabilidade e rastreamento das informações.
Tokenização da economia
Para melhor compreensão dos NFTs, é preciso entender o fenômeno da tokenização da economia. No mercado imobiliário, por exemplo, um projeto pode ser lançado globalmente e qualquer cidadão do mundo pode se tornar proprietário de frações muito pulverizadas das cotas do edifício e ganhar com a valorização daquele ativo no mercado futuro ou pela valorização da própria criptomoeda por ele utilizada.
Os casos de tokenização no setor imobiliário multiplicam-se rapidamente. O lançamento de um condomínio de luxo em Manhattan, em Nova York, arrecadou US$ 30 milhões em tokens registrados na blockchain. Outro caso bem conhecido é o prédio que a rede We Work ocupa em Miami, que abriu as vendas em tokens para a captação de US$ 65,5 milhões.
A democratização no acesso a pequenos investidores de toda parte do mundo descentraliza os modelos convencionais que priorizam os investidores profissionais como fundos imobiliários. Pessoais que outrora jamais teriam acesso a este tipo de ativ sentem-se seguras pela proteção gerada com a tecnologia da rede blockchain e pelo fato de que o volume gerado na pulverização de investidores torna mais rápido o processo de financiamento do ativo imobiliário, reduzindo também a dependência dos grandes agentes financeiros deste segmento, e ampliando as margens de retorno do investimento.
Precificação subjetiva
Em meio a um desafiador momento da economia global, teve quem arrematasse uma escultura invisível do artista italiano, Salvatore Garau por € 15 mil (aproximadamente R$93.000,00). É isso mesmo que você está lendo: uma obra imaginária, com direito a certificado de autenticidade num token digital e tudo!
O senso de objetividade e de subjetividade está mesmo confuso no mundo atual.
Eu fico bastante perplexo com a precificação de todos ativos citados e me coloco a meditar acerca do “preço das coisas” e do “valor das coisas”. Recorro ao mestre Machado de Assis e encontro alguma pista para a euforia das criptomoedas e dos NFTs: “As coisas valem pelas ideias que nos sugerem”.
Namastech!
Gilberto Lima é Internacionalista, Mentor de empresas de base tecnológica no Brasil e no exterior, Presidente do instituto illuminante de Inovação Tecnológica. www.gilbertonamastech.com.br / Redes sociais: gilbertonamastech
Fonte: whow.com.br