Por Carlos Cunha* – Com a chegada do 5G ao Brasil ficou mais fácil compreender um modelo de rede totalmente baseada em software (Software Defined Network, SDN) em que tudo é aplicação, e aplicação rodando em múltiplas nuvens (cloud, edge, fog). A disrupção tecnológica é tal, no entanto, que agora nos vemos diante de uma nova quebra de paradigma: a revolução que a Inteligência Artificial está causando no mundo das operadoras de Telecom. Trata-se de algo esperado: ao longo dos últimos 18 meses, a IA generativa (GenAI) conquistou o mundo.
Novos serviços, como ChatGPT e DALL-E, têm a capacidade de gerar texto, imagens e código de software em resposta a solicitações de linguagem natural dos usuários. É uma era de alta produtividade que se abre para países, empresas e pessoas. Segundo uma pesquisa recente da Bloomberg Intelligence, o mercado de GenAI poderá valer USD 1,3 trilhões até 2032.
Com o valor dessa tecnologia agora claramente aparente, estamos começando a ver um crescente impulso para criar versões específicas, por indústria e por região, dos Large Language Models (LLMs). Trata-se do coração dos engines de IA. Os LLMs são modelos de linguagem estatísticos treinados a partir de uma gigantesca quantidade de dados.
Operadoras têm papel crítico na entrega e proteção de LLMs
No Brasil, algumas operadoras de telecomunicações já estão se preparando para desempenhar um papel de destaque na entrega e proteção das LLMs. Essa é uma tendência estratégica para essa vertical. Com as garantias de segurança adequadas, soluções de LLM como serviço poderão, em breve, ser utilizadas para desenvolver aplicações GenAI específicas para saúde, educação, transportes e outros setores chave. Neste contexto, telecomunicações é ao mesmo tempo mais uma vertical e a vertical primordial, responsável por atuar como infraestrutura para todos os outros setores da economia.
Há uma clara jornada à frente para as operadoras que constroem um modelo de negócios baseado em IA. O primeiro passo é compreender que, por precisarem ser muito responsivos, altamente confiáveis e sempre disponíveis, muitos LLMs serão distribuídos por múltiplas nuvens e sites de edge computing. A meta é aliar IA à latência apropriada para entregar a melhor UX ao mercado. Quem conseguir esse feito verá a GenAI operando de forma plena nos ambientes de edge computing das operadoras. Trata-se de algo essencial para que os usuários conquistem respostas “conversacionais” da IA em tempo real.
Para as Telcos que vêm lutando para aumentar suas receitas, fornecer infraestrutura de edge computing para apoiar sistemas GenAI especializados poderá ser um novo mercado importante. A Bloomberg Intelligence estima que o mercado de infraestrutura GenAI como serviço (usada para treinamento de LLMs) valerá USD 247 bilhões até 2032.
Desafios do processo de “matching” do mundo multinuvem 5G e IA
As arquiteturas de rede distribuídas, que podem aumentar a potencial superfície de ataque, exigem soluções de segurança robustas e escaláveis para evitar o vazamento de dados e informações pessoais. Trata-se de algo crítico tanto na fase de treinamento da GenAI quanto na de entrega de respostas de IA.
À medida que os hackers do mal empregam, cada vez mais, técnicas de movimento lateral (ataques Leste-Oeste) para alcançar múltiplos sistemas interconectados, é crítico que as Telcos protejam tanto as aplicações quanto as APIs que terceiros usarão para acessar o LLM como serviço. Para ajudar a criar conscientização nessa frente, a Open Source Foundation for Application Security (OWASP) iniciou recentemente um novo projeto para educar desenvolvedores, projetistas, arquitetos, gerentes e organizações quanto aos potenciais riscos de segurança ao implementar e gerenciar LLMs.
Uma coisa é certa: as Telcos precisam conquistar a confiança dos clientes para oferecerem soluções de IA seguras. Os sistemas GenAI são um alvo crítico de ataques e processam dados pessoais ou comerciais sigilosos. Vale destacar, ainda, que o impacto da IA no tráfego e na infraestrutura da rede da operadora será cada vez mais influenciado pelos planos dos países e das empresas para hospedar localmente dados de IA. Preocupações com direitos autorais, segurança, bem como com os impactos ambientais do data center voltado para aplicações de IA, estão levando muitos a buscar mais segurança e controle sobre os dados. Todas essas considerações impactam o TCO global das infraestruturas de Telco dedicadas às aplicações de IA.
Telcos exigem proteção flexível e escalável em múltiplos ambientes
As Telcos brasileiras podem desempenhar um papel importante na revolução da IA. Elas possuem infraestruturas nacionais, têm uma oferta B2B e são uma opção natural para se tornarem fornecedoras de IA como serviço. Uma Telco da Europa está usando as tecnologias Nvidia DGX Super POD e Nvidia AI Enterprise para desenvolver o primeiro LLM treinado nativamente em um idioma local.
O objetivo é captar as nuances do idioma, bem como as especificidades de sua gramática, contexto e identidade cultural. Essa oferta tem grandes diferenciais que implicam, naturalmente, na máxima rentabilidade para a operadora. Para proteger a solução IA em múltiplos sites de edge computing, essa Telco européia adotou um serviço de segurança baseado na nuvem. Outro resultado é realizar balanceamento de carga para a nova plataforma de IA em todos os sites de edge computing.
Mar de APIs formam o core da operadora
Novas soluções de segurança para o ambiente IA podem ser empregadas pelas Telcos em sua nuvem pública e em data centers multilocatários, bem como in-house e para os sites de edge computing. Outra missão crítica é proteger o mar de APIs que constituem o core das operadoras, hoje. A meta é escalar rapidamente essa proteção à medida que o tráfego aumenta, reduzindo o custo total de entrega do LLM como serviço. Somente com uma clara visibilidade sobre o fluxo de tráfego, além da baixa latência e excelentes tempos de resposta, as Telcos conseguirão entregar serviços IA de alto nível a seus clientes.
Os próximos anos mostrarão quem dominou a complexidade deste universo e as tremendas possibilidades de crescimento trazidas pelo binômio 5G/Inteligência Artificial. Com soluções de segurança distribuídas, escaláveis e de fácil uso, as operadoras têm tudo o que precisam para se tornar fornecedoras confiáveis de IA. É uma conquista crítica o crescimento atual e futuro do Brasil.
*Carlos Cunha é Gerente de Vendas para Service Providers da F5 Brasil.
Fonte: Teles: IA impulsiona negócios, mas há de se proteger os engines GenAI – convergenciadigital