A Tereos avança no uso de inteligência artificial. Em meados de 2022, a empresa relatou ao Convergência Digital que a transformação digital era uma de suas prioridades e tinha na base tecnologias como inteligência artificial, big data, advanced analytics, gêmeo digital, otimizador em tempo real e internet das coisas (IoT). Mais recentemente, a produtora de açúcar, etanol e bioenergia anunciou que investiu R$ 1,1 milhão na implantação de um programa que visa a reduzir e a evitar acidentes de trânsito por meio de tecnologia para a detecção de fadiga e distração nas operações de transporte.
Sensores de mapeamento facial acompanham em tempo real os motoristas e veículos envolvidos em suas atividades diárias. Eles monitoram e analisam as expressões faciais dos condutores, permitindo a identificação de situações perigosas, como sonolência, uso de celular e cigarro, velocidade acima do permitido e falta de uso do cinto de segurança, entre outros fatores de risco relacionados à condução veicular.
Há quase dois anos na companhia, o atual gerente-executivo de saúde e segurança do trabalho, Mauricio Guadalupe, contou que a Tereos tem iniciativas de segurança de trabalho e, em 2022, foi estabelecido o Programa Seja, que tem duração de cinco ano e está estruturado em cima de três pilares: liderança, simplificação do sistema e gestão de risco.
“A IA está dentro do processo de gestão de risco e dentro disso a gente fez trabalho de cruzamentos estatísticos”, disse, acrescentando que o tombamento do veículo de transporte é o principal incidente e foi para reduzi-lo que a companhia buscou no mercado tecnologias que a ajudasse, por exemplo, a identificar a fadiga do motorista. Em outras palavras, a IA está agindo para que acidentes não aconteçam.
Mauricio Guadalupe relatou que vários sensores com câmera foram instalados dentro da cabine e eles fazem leituras, identificando, por exemplo, bocejo ou pupila dilatada, e checam se o motorista também está usando o cinto de segurança, manuseando o aparelho celular etc. “A tecnologia está embarcada no caminhão e funciona independentemente de ter ou não internet. Ela identifica esses sinais e envia mensagens ao motorista de acordo com o tipo de sintoma e desvio”, disse. O sistema envia mensagem de voz e pode também alterar a iluminação da cabine como alerta para o motorista.
O sistema foi implementado nos caminhões que transportam cana-de-açúcar, para caminhões-tanque (vinhaça) e caminhões-prancha, que dão suporte. “Somente nos primeiros meses que implementamos o sistema, tivemos redução de 40% nos acidentes — que vão de batida contra outros veículos, árvores, queda dentro de canaleta e tombamento de caminhão”.
A companhia conta com frota própria e também terceirizada; e instalou o sistema em 100% da frota própria — o parceiro já usava o mesmo sistema. “Esta tecnologia veio para auxiliar a temática de saúde e segurança e também vai melhorar a produtividade dos motoristas e segurança deles”, ponderou.
Por meio da inteligência artificial, padrões de comportamento dos motoristas em casos de cansaço e distração passam a ser identificados para, assim, oferecer mais agilidade na detecção da situação e emissão do alerta. Ao detectar um evento de emergência ou uma situação perigosa, o sistema emite imediatamente um alerta ao motorista responsável. Além disso, uma mensagem contendo o registro de imagem é enviada automaticamente a uma central de vigilância dedicada, permitindo uma análise precisa e uma resposta eficiente diante de qualquer evento.
O projeto surgiu após uma análise de incidentes ocorridos nas unidades da companhia. Com a implementação do recurso em todos os veículos de transporte de cana, transporte de vinhaça e transporte de prancha, a empresa projeta uma redução significativa dos acidentes envolvendo veículos de cargas, que representam cerca de 34% do total de incidentes de alto potencial, contribuindo para a preservação da integridade física de seus colaboradores e o aumento da eficiência de suas operações.
Depois da implantação, a Tereos fez ajustes finos para calibrar a ferramenta a, por exemplo, tiques que alguns motoristas poderiam ter. Acima de 60 vezes que o motorista usou, a IA entende o funcionamento de cada pessoa e passa compará-la com ela mesma — e não mais com comportamentos-padrão oriundos de banco de dados. “É um programa de qualidade de vida”, resume o gerente-executivo de saúde e segurança do trabalho.